O Carnaval de Goiânia ganha uma manifestação cultural inédita com o bloco Tambores do Orum, que sai às ruas nos dias 15 e 16 de fevereiro trazendo o enredo “Malês e o Levante Africano”, em referência à Revolta dos Malês, um dos episódios mais marcantes da luta contra a escravidão no Brasil. A iniciativa é do Orum Aiyê Quilombo Cultural, um bloco formado, gerido e tocado exclusivamente por pessoas negras.
O cortejo acontece no sábado (15/2) no Residencial Morada do Bosque e no domingo (16/2) no Centro de Goiânia, ambos com concentração a partir das 16h e saída às 17h. Em caso de chuva, os eventos serão realocados para espaços cobertos próximos.
A iniciativa faz parte de um movimento nacional que busca resgatar e fortalecer a cultura afro-brasileira dentro do Carnaval, seguindo os passos de blocos como Ilê Aiyê (BA), Òrúnmilá (RJ) e Ilú Obá de Min (SP).
Enredo 2025: A Revolta dos Malês
A Revolta dos Malês, ocorrida em 1835 em Salvador (BA), foi o maior levante de escravizados da história brasileira. Liderada por africanos muçulmanos conhecidos como “malês”, a insurreição buscava não apenas a liberdade, mas também o direito à preservação de sua cultura e crenças religiosas.
Para Marcelo Marques, diretor-geral do Orum Aiyê, a revolta foi um marco na resistência negra no Brasil.
“Os malês eram alfabetizados em árabe e português e usaram essa vantagem para organizar o levante. A revolta mostrou que os africanos escravizados não aceitavam passivamente a opressão e resistiram bravamente, deixando um legado de luta pela liberdade”, explica.
A produtora Raquel Rocha destaca que o bloco Tambores do Orum leva essa história para as ruas como um ato de celebração da resistência negra.
“Em 2025, 190 anos depois, nosso bloco vai ocupar Goiânia para celebrar nossa inteligência, cultura e capacidade de luta organizada”, afirma.
Cultura afro e instrumentos ancestrais
O cortejo do Tambores do Orum será embalado por instrumentos tradicionais da cultura afro-brasileira, como alfaia, atabaque, agogô e xequerê, sob a regência dos músicos Noel Carvalho e Weiller Jahmaika. Além da percussão, a dramaturgia contará com apresentações de dança afro inspirada nos movimentos dos orixás e voduns, coordenadas por Setchegon Sokenou.
O figurino do bloco foi criado por Raquel Rocha, enquanto as apresentações em pernas de pau estão sob a coordenação de Marcelo Marques. A parte musical conta ainda com o canto liderado por Milca Francielle.
Criado em 2024, o Tambores do Orum segue o caminho do Ilê Aiyê, primeiro bloco afro do Brasil, fundado na Bahia em 1974. A proposta é romper com a hegemonia branca nos blocos carnavalescos de Goiânia e garantir o protagonismo negro na folia.
“Muitos blocos de carnaval foram fortemente influenciados pela cultura afro-brasileira, mas sem a devida representatividade negra. Nosso objetivo é ocupar esse espaço com nossa música, dança e ancestralidade”, reforça Marques.
Bloco Tambores do Orum
???? 15 de fevereiro (sábado)
???? Residencial Morada do Bosque (Rua MB-2, esquina com MB-01)
⏰ Concentração às 16h, saída às 17h
???? 16 de fevereiro (domingo)
???? Antiga Estação Ferroviária (Avenida Goiás, Centro)
⏰ Concentração às 16h, saída às 17h
???? Em caso de chuva, os eventos serão transferidos para locais cobertos próximos.