O consumo crescente de doces com substâncias alucinógenas por jovens brasileiros acende um alerta entre especialistas e autoridades de saúde. Conhecidos como “doces mágicos” ou “balas psicodélicas”, esses produtos têm sido vendidos ilegalmente em festas, festivais e até mesmo nas proximidades de escolas, apresentando riscos graves à saúde física e mental.
Dados do DATASUS revelam que, apenas em 2024, foram registradas mais de 500 internações por uso acidental ou recreativo dessas substâncias, um aumento de 120% em relação ao ano anterior. Segundo relatório da Polícia Federal de março de 2025, 74% dos itens apreendidos continham LSD sintético ou psilocibina – composto extraído de cogumelos alucinógenos.
Arissa Felipe Borges, professora de nutrição da Estácio, explica que a aparência inofensiva desses doces esconde sérios riscos. “A psilocibina interfere na absorção de nutrientes e pode causar desnutrição em adolescentes. Já o LSD afeta a serotonina, desregulando o apetite e o ciclo de fome e saciedade”, destaca.
Além dos efeitos imediatos, há riscos de contaminação por metais pesados como chumbo e cádmio, utilizados como adulterantes durante a produção clandestina. Essas substâncias tóxicas podem se acumular no organismo e provocar danos irreversíveis ao fígado e aos rins.
A neurologista Fabíola Rachid Malfetano, professora do IDOMED, reforça que os perigos não se limitam a reações passageiras. “Estamos falando de substâncias que atuam diretamente no sistema nervoso central. Há risco de desenvolver transtornos psiquiátricos, como esquizofrenia, especialmente em pessoas com predisposição genética”, afirma. Ela cita ainda o Transtorno Persistente de Percepção Alucinógena, caracterizado por flashbacks visuais mesmo meses após o consumo.
Casos de surtos psicóticos em ambientes não controlados também preocupam. “Já houve relatos de jovens que se jogaram de locais altos em meio a alucinações intensas”, alerta Fabíola. Ela enfatiza que não existe dose segura. “A concentração dos princípios ativos varia muito nesses produtos. O consumidor nunca sabe o que está ingerindo.”
Para conter o avanço do problema, tramita no Congresso o Projeto de Lei 1456/2025, que prevê penas mais rigorosas para quem produzir ou vender alimentos contendo substâncias alucinógenas. Fabíola defende ainda a ampliação de políticas públicas de conscientização e prevenção, com foco em pais, educadores e jovens. “O combate passa pela informação. Muitos adolescentes consomem sem saber os riscos reais”, conclui.