Dificuldade de socialização, mudanças bruscas de comportamento e queda no rendimento escolar são sinais que podem indicar sofrimento emocional em crianças e adolescentes. Com o aumento de casos de transtornos mentais nas escolas brasileiras, especialistas alertam para a importância da capacitação dos professores na identificação precoce desses sintomas e no encaminhamento adequado dos estudantes.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% e 20% dos adolescentes em todo o mundo enfrentam algum tipo de transtorno mental. No Brasil, a situação preocupa: levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria aponta o crescimento de quadros como ansiedade, depressão, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e TEA (Transtorno do Espectro Autista) entre alunos da rede básica.
“Quando uma criança tem um transtorno mental, ela precisa de um cuidado multidisciplinar. O professor, por estar em contato direto com o aluno, é peça-chave para perceber mudanças e buscar apoio”, afirma o psiquiatra Dr. Thyago Henrique, formado pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
O especialista defende a formação continuada dos docentes com foco em saúde mental. “A quebra de padrão comportamental é um dos principais sinais de alerta. Nem toda criança introvertida está com um problema, mas toda mudança significativa merece atenção”, explica Dr. Thyago.
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Ele também recomenda que a escola promova o diálogo constante com a família e campanhas de conscientização sobre o tema. “Mais importante do que questionar a criança diretamente é envolver os pais no processo”, reforça.
Sem suporte adequado, muitos estudantes acabam enfrentando dificuldades de aprendizado, evasão escolar e, futuramente, problemas como desemprego e exclusão social. “A saúde mental infantil é também uma questão de segurança pública e de desenvolvimento econômico”, alerta o psiquiatra.
Além de abordar os principais transtornos, a formação dos professores deve incluir estratégias de acolhimento e manejo em sala de aula, sempre com respeito à individualidade dos alunos. “O papel do professor não é diagnosticar, mas observar e encaminhar”, pontua.
Outro ponto sensível é a saúde emocional dos próprios educadores. “O professor vive sob alta carga emocional. Sem preparo técnico e apoio, ele também pode adoecer”, afirma Dr. Thyago, que atua em um projeto de capacitação de docentes com foco na criação de ambientes escolares mais humanos e inclusivos.
Para o médico, investir no conhecimento dos professores é uma maneira de garantir que menos talentos sejam desperdiçados por falta de acolhimento. “Quantos Thomas Edisons já não perdemos por falta de compreensão?”, conclui, relembrando o caso do inventor que foi expulso da escola por comportamentos hoje associados ao TDAH.