Seja pela devoção ou pela oportunidade, as caravanas que chegam a Goiás transformam a fé em motor da economia.Durante os meses de maio, junho e julho, o estado registra um dos maiores fluxos turísticos do país, impulsionado pelo Totus Tuus, em Goiânia, e pela Romaria do Divino Pai Eterno, em Trindade.
O impacto é visível. Hotéis operam com mais de 90% de ocupação, restaurantes ficam lotados, supermercados dobram o faturamento, e a Região da 44 se torna ponto obrigatório no roteiro dos peregrinos.De acordo com o Grupo Mega Moda, complexo que reúne os shoppings Mega Moda Shopping, Mega Moda Park e Mini Moda, a movimentação no período gera um aumento de até 20% nas vendas das lojas de moda cristã.
— O turismo religioso sempre existiu, pois existe um propósito de fé nas peregrinações. Entretanto, temos que reconhecer que nos últimos anos se tornou também um segmento estratégico para a economia. Ele influencia o comportamento de consumo, movimenta o comércio e tem impactado desde o planejamento do varejo até a criação de produtos pensados para atender aos seus valores e preferências. — afirma Paula Sepulveda, gerente de marketing do Grupo Mega Moda.
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As caravanas saem de Palmas, Taquaralto, Gurupi, Rondonópolis, Uberlândia, Patos de Minas, Paracatu e dezenas de cidades do interior de Goiás. O destino é claro: oração, fé, mas também consumo.
— A gente vem pela fé, mas todo ano tem que passar na 44. A gente compra roupa pro trabalho, roupa pra casa, pras crianças, renova o guarda-roupa e também leva camisetas, saias e escapulários pra vender — explica a autônoma Tânia Ferreira, de Taquaralto, que participa da Romaria há oito anos.
O mesmo relato vem da comerciante Luciana Mendes, de Palmas. — Aqui, a gente junta o útil ao espiritual. Vem rezar, agradecer e, claro, compra muito. A moda cristã hoje é linda, elegante, tem alfaiataria, tem saia midi, tem camiseta com versículo. É pra gente e também pra revender. O preço compensa muito. — afirma.
O reflexo não é só no comércio de moda. Hotéis e pousadas estão lotados. Restaurantes, supermercados e até postos de combustíveis relatam aumento de até 40% no faturamento.
— É como se fosse Natal em junho. Vendemos o dobro. Água, pão, frutas, frios, carnes, tudo. É muita gente chegando, muita gente comprando — conta Paulo César Lima, gerente de supermercado na entrada de Trindade.
No transporte, o motorista Adriano Martins, que faz a linha Palmas-Trindade, confirma: — A demanda dobra. Faço seis viagens em duas semanas, sempre lotado. Todo mundo vem rezar, mas ninguém volta sem passar na 44.
O economista Lucas Brandão reforça que, embora as pessoas venham de outros estados, todo o dinheiro circula em Goiás.
— É geração de renda 100% para Goiás. São turistas do Tocantins, do Mato Grosso, de Minas, do interior goiano, todos consumindo aqui. É hotel, é loja, é restaurante, é supermercado. Um ciclo virtuoso que movimenta milhões e gera empregos diretos e indiretos no estado. — afirma.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Artigos Religiosos, o mercado de produtos ligados à fé movimenta cerca de R$ 15 bilhões por ano no Brasil, e o turismo religioso responde por aproximadamente 18 milhões de viagens anuais.
O efeito deve se estender até julho, quando a Romaria chega ao seu auge, com mais de 3 milhões de fiéis circulando em Trindade. Enquanto a fé une os povos, Goiás colhe os frutos de uma economia que gira na força da devoção.