Lábios Diversos Brasileiros : Qual a Ciência para os Lábios que Insistimos em Padronizar?

O aumento significativo nos últimos anos na procura de procedimentos estéticos labiais, como preenchimentos e cirurgias, reflete tendências mundiais para o culto e valorização dos lábios. Todavia, é imprescindível que estes procedimentos da saúde estética sejam realizados e manipulados, por profissionais muito bem qualificados, além da qualidade dos materiais a serem utilizados nos preenchimentos, tudo isso no intuito de garantir segurança, qualidade e eficácia ao paciente.

Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS), o número  de cirurgias labiais aumentou em 40% entre os anos de  2022 e 2023. Só no ano de 2023, o Brasil foi responsável por aproximadamente 3,4 milhões de procedimentos estéticos, sendo esses cirúrgicos e não cirúrgicos. O uso do ácido hialurônico, foi o campeão na escolha para os procedimentos labiais, representando o total de aproximadamente 40% das aplicações.

Na modernidade com o advento das redes sociais, filtros digitais e importantes influenciadores, os lábios passaram de meros coadjuvantes estéticos e tornaram - se protagonistas centrais de beleza, poder, consumo e identidade. Hoje os lábios vão além da vitrine cultural da aparência, batons e sorrisos. A intervenção sobre eles sempre traz algo sobre a realidade que vivemos, pois eles seduzem, protestam, falam, se apresentam como referências das personalidades. 

O padrão de boca brasileira mescla características de diferentes etnias, o que dita moda e inveja para outras culturas. A combinação de lábios moderadamente volumosos, proporções equilibradas entre os lábios inferiores e superiores, contornos definidos, traz um aspecto requerido de naturalidade. Esse padrão brasileiro único tem origem na miscigenação dos povos indígenas, africanos e europeus. O Brasil apresenta diversos fenótipos que variam de estado para estado, não obstante, é importante valorizar as suas singularidades regionais.  O risco de padronizar um molde de beleza de boca ideal para corpos diferentes é querer transformar rostos belos, plurais e diversos em versões repetidas e artificiais de um ideal inalcançável.

O desejo por lábios perfeitos na maioria das vezes ultrapassa os limites da saúde e chama atenção para quem estará manipulando os procedimentos e a qualidade dos produtos a serem aplicados, uma vez que riscos estéticos, funcionais e médicos podem ocorrer. Como exemplo temos assimetrias, excesso de produto, nódulos, rigidez e perda do contorno labial, obstrução vascular, necrose, infecção, edemas e alergias aos produtos. Denotamos também os riscos psicológicos como dismorfia, dependência estética e arrependimento.

Hoje com a alta demanda e consumo para o mercado da estética, muitos profissionais na ânsia para um retorno rápido financeiro não se qualifica adequadamente e nem utiliza das melhores marcas para as aplicações labiais. Vale ressaltar, que a ciência dermatológica e a medicina estética tem avançado significativamente frente aos cuidados labiais trazendo produtos que são padrão ouro, como o ácido hialurônico, biocompatível, reversível e com a característica de hidratante, com resultados a depender da marca que vão de 6 a 12 meses, com pouquíssimos efeitos colaterais.

A escolha da técnica correta de preenchimento labial afeta diretamente os resultados. As técnicas são individualizadas, a respeitar o tipo de lábios, etnias, histórico de saúde e proporções faciais. Não devem ser aplicadas por qualquer profissional, sem experiência e sem os conhecimentos e estudos prévios adequados.

Talvez a verdadeira beleza para os lábios brasileiros reside no que a padronização tenta ofuscar, a nossa diversidade. Em um Brasil, de múltiplas etnias, traços e culturas, insistir em um padrão único de lábios é negar a ciência, a identidade e a personalidade de um indivíduo. A ampla ciência da dermatologia tem se aliado à medicina estética trazendo recursos, produtos e técnicas para realçar, destacar os lábios e não para uniformizar. É dever de quem atua com saúde estética, entender que lidamos com pessoas reais. Que a estética é para caminhos de expressões, estudos, técnicas inovadoras e não de padrões repressores e que tragam prejuízos