Controlar tudo parece, à primeira vista, uma estratégia de proteção. Quem tenta controlar o futuro, as emoções, os outros e até os próprios pensamentos acredita que está se antecipando ao sofrimento, evitando o caos. Mas, na prática, o excesso de controle aprisiona, desgasta e bloqueia a entrega que a vida exige para fluir com leveza.
A necessidade de controlar está profundamente associada à hiperatividade do sistema nervoso central. O cérebro, programado para manter a sobrevivência, ativa o modo de vigilância quando percebe riscos, mesmo que simbólicos. Pessoas que passaram por ambientes inseguros, instáveis ou emocionalmente negligentes na infância tendem a desenvolver padrões de controle como resposta adaptativa. O problema é que essa adaptação se torna, com o tempo, um obstáculo.
O corpo entra em estado de tensão crônica, o sono se altera, o intestino reage, a mente acelera. A energia vital vai sendo direcionada à antecipação e à defesa, enquanto a espontaneidade, a criatividade e a presença ficam comprometidas. Em níveis profundos, o controle é a forma que o ego encontra para evitar vulnerabilidades. Mas a vulnerabilidade é justamente a porta para experiências mais autênticas, para o amor real, para a espiritualidade, para a conexão com o corpo.
Se entregar ao fluxo, quando associado à confiança, ativa circuitos cerebrais ligados ao prazer, à reparação emocional e à sensação de pertencimento. Quando nos permitimos confiar, ativamos o sistema nervoso parassimpático, que regula o corpo, reduz o cortisol e nos aproxima de estados mais saudáveis, física e emocionalmente.
Por outro lado, quem vive tentando controlar também costuma desconfiar de tudo. A vida fica sob constante avaliação, como se tudo precisasse fazer sentido racional. O corpo, que fala por sensações, é silenciado. A intuição, abafada. A espiritualidade vira um conceito teórico, não uma experiência viva. O controle, nesse nível, impede a entrega não só à vida, mas a si mesmo.
Existe também um aspecto ancestral importante: mulheres e homens que carregam no campo familiar histórias de perda, abandono, tragédias ou injustiças, muitas vezes desenvolvem padrões inconscientes de controle para tentar compensar o que não pôde ser resolvido. Essa carga emocional herdada pode gerar um sentimento de que se entregar é perigoso, de que baixar a guarda é se expor demais, de que confiar é algo que só leva à dor. É possível trabalhar essas crenças e liberar o corpo dessa programação rígida.
Crenças como “se eu relaxar, tudo desmorona” ou “ninguém cuida de mim, então preciso estar no controle” aparecem com frequência em pessoas exaustas, sobrecarregadas e distantes da própria essência. Desprogramar essas ideias e trazer comandos de confiança, merecimento, presença e equilíbrio pode ser transformador.
A entrega não é passividade. Ela é ação alinhada com consciência. Entregar-se é um gesto de coragem, é o reconhecimento de que não é preciso controlar tudo para que as coisas deem certo. É saber quando agir e quando soltar. É respirar fundo diante da incerteza e ainda assim continuar.
Quando o controle cede espaço à entrega, o corpo se reorganiza. A respiração muda. O coração se abre. A criatividade volta a pulsar. O sistema nervoso entende que não é mais necessário se defender o tempo todo. E a vida pode finalmente ser vivida, com mais verdade, menos rigidez e mais presença
Val Leítao é terapeuta holística, especialista em comportamento humano, bem-estar e comportamento alimentar. Mestre Reiki, Thetahealer e numeróloga.