O cansaço que muitas pessoas carregam diariamente não se explica apenas pelo excesso de tarefas ou pela falta de sono. Ele é fruto de uma desconexão progressiva com o próprio ritmo biológico e emocional. Vivemos em uma cultura que valoriza a produtividade contínua, negligenciando o papel essencial do repouso, da contemplação e da desaceleração. Esse padrão, sustentado por crenças inconscientes de autovalor condicionado ao desempenho, alimenta ciclos de exaustão física e emocional que se perpetuam silenciosamente.
O sistema nervoso humano, especialmente através do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, é altamente sensível ao estresse prolongado. Quando a pausa é negada e o corpo é forçado a manter-se em estado de alerta constante, ocorre a liberação crônica de cortisol e adrenalina, hormônios que, em excesso, desgastam as funções metabólicas, prejudicam a imunidade e alteram o humor. A sensação de fadiga torna-se então um estado basal, não mais um sinal temporário de esforço, mas um modo de funcionamento desconectado das reais necessidades fisiológicas.
Ao longo da minha trajetória como terapeuta holística, percebo que esse esgotamento emocional é frequentemente mascarado por padrões mentais de autossabotagem, como a procrastinação, a busca incessante por aprovação ou a necessidade de manter o controle absoluto sobre todas as áreas da vida. Esses comportamentos, embora à primeira vista pareçam estratégias de organização ou de proteção, são mecanismos inconscientes que drenam energia vital. Sempre que atendo alguém nesse estado, reforço a importância de investigar esses padrões com acolhimento e responsabilidade.
A fadiga não é apenas um fenômeno físico, mas um resultado direto do desgaste cognitivo e emocional. Áreas como o córtex pré-frontal, responsável por decisões complexas e regulação emocional, sofrem com a sobrecarga, tornando-se menos eficientes. O resultado é uma sensação persistente de cansaço mental, dificuldades de concentração, irritabilidade e, em casos mais graves, sintomas de depressão e transtornos de ansiedade.
E necessário reconhecer e respeitar os próprios limites. Muitas pessoas internalizam desde a infância a ideia de que precisam ser fortes o tempo todo, que descansar é sinal de fraqueza ou preguiça. Essas crenças, sedimentadas no inconsciente e alimentadas por memórias ancestrais de escassez ou de sobrevivência, impedem a construção de uma relação mais saudável com o corpo e o tempo. Sempre oriento meus clientes a observar quando essas crenças surgem, para que possam, pouco a pouco, substituí-las por posturas mais respeitosas consigo mesmas.
Essa desconexão com o próprio ritmo também afeta a espiritualidade. Quando se vive em um estado permanente de exaustão, a capacidade de acessar estados de presença, meditação ou introspecção profunda é severamente reduzida. A mente hiperestimulada e o corpo exaurido criam um ambiente interno onde a sutileza das emoções e das intuições não consegue emergir com clareza. Sempre digo que espiritualidade não pode ser mais um item numa lista de obrigações, mas precisa ser um espaço real de renovação.
Resgatar a conexão com o próprio ritmo exige um movimento consciente e amoroso de desaceleração. Não se trata de abandonar as responsabilidades ou de negar a importância do trabalho, mas de cultivar pausas intencionais, restabelecer a escuta do corpo e compreender que o descanso não é um prêmio ou um luxo, mas uma necessidade biológica e psicoemocional. Eu mesma pratico regularmente técnicas de respiração consciente, de mindfulness, que é uma abordagem que recomendo fortemente e vejo resultados muito concretos tanto na minha vida quanto na trajetória de quem acompanha o meu trabalho. A prática do silêncio e da meditação são recursos que integro no meu dia a dia e que também oriento nas sessões terapêuticas.
É importante também investigar as crenças que sustentam o ciclo da exaustão. Muitas vezes, ao trazer à consciência padrões herdados ou aprendidos, torna-se possível ressignificá-los e construir novas formas de se relacionar com o tempo, o trabalho e o autocuidado. O acolhimento desse processo, feito com gentileza e sem autocrítica, permite que a vitalidade retorne de forma natural, orgânica, alinhada aos verdadeiros limites e necessidades do Ser.
A superação da fadiga crônica não está apenas no repouso físico, mas na capacidade de estabelecer uma nova relação com o próprio ritmo, em um movimento que une autoconhecimento, escuta corporal e liberdade emocional. A vitalidade é, acima de tudo, um estado de presença e de respeito profundo pela própria humanidade.
Val Leítao é terapeuta holística, especialista em comportamento humano, bem-estar e comportamento alimentar. Mestre Reiki, Thetahealer e numeróloga.